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Minha história de leitura... qual a sua?


Foi por causa do post homônimo da amiga blogueira Joicy Doux Sorcière que decidi subverter a linha editorial que adotei este ano aqui no Sublime Irrealidade e escrever um artigo ainda mais pessoal e intimista... Pretendo falar rapidamente sobre a minha experiência com a literatura e como ela transformou, sem nenhum exagero, a minha visão de mundo e a minha forma de interagir com outras pessoas e seus pensamentos... Sempre estudei em escola pública e hoje faço a triste constatação de que foram poucos os professores que se preocuparam em tornar a mim e meus colegas devoradores de livros. Minha mãe aprendeu a ler sem nunca ter ido à escola, isso de alguma forma colaborou para que a leitura não se tornasse um de seus hábitos, ela não tinha consigo as melhores condições para se tornar uma incentivadora... Este contexto fez com que eu estabelecesse um relacionamento já tardio com a literatura, que veio a acontecer na minha adolescência, o pouco contato que tivera antes disso, fora através de alguns livros da Coleção Vaga-lume, aqueles cuja a leitura escassa era obrigatória em algumas escolas. A maior parte da minha turma os lia por obrigação, ou simplesmente não os lia, eu no entanto lia com o maior prazer do mundo.

Mas a verdadeira revolução artística e cultural que experimentei começou a acontecer quando eu tinha 13 anos, foi quando se deu o meu primeiro contato com a música como forma de arte, pode parecer que estou mudando de assunto, mas não, eu passara então a experimentar a música não mais como uma simples forma de entretenimento, mas como um canal para novas ideias e pensamentos, no auge de minha utopia eu acreditava que a música, não só ela, mas toda expressão artística poderia mudar o mundo e torná-lo melhor, mas eu queria ir além, eu queria ir até a fonte de tais pensamentos que eu considerava revolucionários. Foi nesta época que estabeleci meus primeiros contatos com a filosofia. Enquanto o meu professor desta disciplina tecia interpretações mesquinhas do mito da caverna de Platão, eu mergulhava em clássicos como Utopia de Thomas More, O Príncipe de Maquiavel, O Contrato Social de Russeau e outras obras e fragmentos de Marx, Bakunin, Malatesta, Emma Goldman, Proudhon, Kropotkin e outros...


O contato com a filosofia política me levaria à leitura de clássicos de outras correntes filosóficas, foi então que conheci Nietzsche, com quem desenvolvi uma relação de amor e ódio, Epicuro, um de meus favoritos, Spinosa, Erasmo e é lógico aqueles que seriam a base de todo o pensamento ocidental, Sócrates, Platão e Aristóteles, sendo este último aquele com o qual eu mais me identifico. A crise ideológica que experimentei algum tempo depois direcionaria o meu olhar para os clássicos ficcionais, durante um bom tempo eu preferi me distanciar, não da filosofia, mas do radicalismo que eu havia adotado como estilo de vida, foi neste período de antítese que conheci o meu autor favorito: Franz Kafka. De uma forma assustadora sua obra conseguia materializar todas as dúvidas, angústias e crises que eu então experimentava. Li O Processo e enxerguei ali uma alegoria da minha própria viva e esta identificação foi devastadora e se repetiu quando eu li A Metamorfose.

Foi também neste mesmo período que li Os Sofrimentos do Jovem Werter de Goethe, outra obra que deixaria marcas profundas em mim e que exemplifica bem a forma com que eu sempre dialoguei com os livros que lia, quando eu o li eu vivia uma situação parecida com a que levara o personagem central ao suicídio na história, porém, ao invés de despertar em mim sentimentos negativos, similares ao vividos por Werter, o livro trazia era algo de mágico, uma espécie de confirmação de que tudo aquilo que eu estava vivendo era digno de uma das maiores obras da literatura mundial, o que tornava meu sofrimento quase poético. O meu constante diálogo com os livros faria com que em muitas situações eu visse confundidas a minha história com a dos personagens com quem eu interagia.

A literatura se tornou então o código secreto que confirmava para mim que a minha existência tinha algo de superior, ao contrário do que tudo à minha volta dizia. Eu era alguém, eu era um indivíduo diferente dos demais e justamente por isso eu era alguém. Foi a literatura que de alguma forma de libertou das amarras do determinismo, que constantemente me dizia que o meu destino já estava escrito e por isso seria intocável, eu estava condenando a ter o mesmo futuro mesquinho esperado por todos aqueles garotos que liam a Coleção Vaga-lume por obrigação nos tempos da escola. Ler não me tornou mais rico, ou mais poderoso (ainda!), mas me possibilitou a fazer uma leitura diferenciada do mundo á minha volta. Hoje, posso afirmar que a reação que tenho diante de um filme, ou de uma peça teatral está diretamente ligada às reações que tive a priori com a literatura.

Não lembro muito bem do meu primeiro livro, lembro apenas que ele tinha um caracol na capa e que o ganhei quando entrei na escola primária, já do segundo eu lembro, na verdade guardo ele até hoje, é O Burrinho Insatisfeito, um livro infantil que narrava a história de um burrinho que não contentava em ser burro, ele então encontra um mágico que passa a lhe conceder desejos e o transforma em vários outros animais que ele julgava ter uma vida mais fácil que a sua, no final ele chega à conclusão de que ser burro era de fato o que ele gostava... Lembrei desta história pois ela ilustra bem aquilo que a literatura nos proporciona, ela é este mágico que nos concede o desejo de ser ao menos por alguns instantes aquilo que não somos e este processo nos ajuda descobrir quem realmente somos...

No momento estou lendo lentamente Crime e Castigo de Dostoiévski e devorando A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera...

Termino este post com um agradecimento emocionado a alguns mestres que me ajudaram a descobrir e/ou aprimorar o gosto pelos livros, obrigado Carla Fagundes (por ter lecionado sobre a literatura brasileira com a maior paixão do mundo), Carla Silva Machado, (por ter me apresentado, dentre outros, O Retrato de Dorian Gray de Oscar WildTaís Alves, (por ter me apresentado a Zuenir Ventura e ao jornalismo literárioMaria do Carmo Mello (pelas ótimas discussões literárias e filosóficas e por ter me apresentado a O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder) e Robson Terra (pelas brilhantes análises das obras de alguns dos mais importantes teóricos da comunicação)!


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